Quando era criança, na década de 1960, passava boa parte do meu tempo construindo meus próprios brinquedos. Carrinhos de rolimã, patinetes, estilingues e pipas que, bem ou mal feitos, preencheriam as atividades de vários dias em brincadeiras na rua de terra batida, mesmo sendo um bairro de São Paulo. Época de futebol em terrenos baldios, jogo de bolinhas de gude na rua, pular corda e uma infinidade de outros jogos infantis que hoje quase não vemos mais.

Criar os próprios brinquedos exigia imaginação e iniciativa para conseguir os materiais e transformar as ideias em algo concreto. Vivíamos os erros e fracassos na construção, mas perseverávamos para poder desfrutar depois das agruras de descer ladeiras com carrinhos e patinetes que só recebiam freios após a primeira colisão com um poste.

Claro que, apesar de contarmos sobre uma realidade de pouco mais de cinquenta anos atrás, esse é um mundo que já desapareceu. Não podemos esperar que as crianças de hoje, que veem carrinhos e patinetes prontos nas lojas e que não têm mais acesso a terrenos baldios ou ruas de terra batida sem trânsito de automóveis, possam se interessar em construir esses brinquedos. Mas, o processo criativo e de fazer acontecer os brinquedos continua sendo uma aprendizagem fundamental para as crianças.

Quais seriam, então, as possibilidades de elas desenvolverem essas competências nos dias de hoje?

O vídeo que acompanha este texto mostra uma reportagem sobre os interesses das crianças neste mundo tecnológico que criamos. Cresce vertiginosamente no Brasil o número de escolas e espaços criativos envolvendo a tecnologia como fator agregador de interesse para nossos filhos em gerar brinquedos que sequer poderíamos imaginar em nossa infância.

Demos a nossos filhos brinquedos prontos. Precisamos dar a eles, agora, a oportunidade de criarem os brinquedos para os filhos deles. Sem saudosismos, devemos ver na tecnologia atual os caminhos que levam ao desenvolvimento de um ser humano criativo e autônomo através da realidade de seu próprio mundo, mesmo que isso nos pareça tão diferente daquilo que vivemos.

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