MorteComo educar para a morte? Hoje qualquer criança de três anos de idade já ouve histórias do bebê na barriga da mamãe, da sementinha que o papai plantou na mamãe, quando não são usados termos mais explícitos. No entanto, acredito que poucos dos atuais adultos com idade ao redor dos quarenta anos, principalmente os que vivem nas apinhadas grandes metrópoles, tiveram a oportunidade de frequentar um velório na casa do falecido.

Esconder o “corvo” faz parte de uma nova cultura de imortalidade que se instalou na era industrial. Podemos tudo! A ciência nos fará imortais! Pessoas congelam seus corpos para que a ciência, no futuro, traga-as de volta à vida eterna.

Na cultura da matéria, é o corpo que importa. A cirurgia plástica tenta apagar as marcas do amadurecimento das pessoas, pois para elas essas marcas representam envelhecimento e aproximação do fim. Inicia-se, então uma busca frenética pela imortalidade do corpo. Mas talvez nós sejamos imortais. Talvez…

Esta maneira de encarar o “corvo” é absolutamente inusitada na história do Homem. A morte, em todas as culturas, sempre representou o mistério da transcendência, uma passagem para outra dimensão, para um outro mundo, para um outro estado de energia.

Com o conhecimento que temos hoje, podemos até imaginar, talvez, que a vida não comece, nem acabe: ela se perpetua. Na junção do óvulo com o espermatozoide, dois seres vivos se juntam para perpetuar a vida, não para começar a vida. Na morte, transcendemos um patamar, e a vida segue. Talvez…

Como diz o rabino carioca Nilton Bonder: a morte não é uma opção.

Independentemente de nossas crenças e convicções sobre a morte, ela existe e devemos refletir sobre ela, pois boa parte dos nossos medos, senão todos, têm origem nessa lacuna do nosso conhecimento sobre a vida.

Muitos estudiosos desse tema têm escrito livros, raramente lidos nos dias de hoje, sobre esse assunto. Uma dessas autoras é a professora Maria Júlia Kovács (1992, 2003), que tem um Laboratório de Estudos sobre a Morte. Dois de seus livros: Morte e desenvolvimento humano e Educação para a morte – temas e reflexões, podem ajudar em nossas reflexões. E Maria Júlia pergunta:

É possível uma educação para a morte …? Por quê? Como preparar as pessoas para este fato tão presente na existência? Este desafio se torna ainda mais urgente para os profissionais de saúde e educação. (KOVÁCS, 2003).

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