InvisívelComo consta no livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, “O essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração”.

Num esforço para permitir o progresso do conhecimento humano sem a interferência ferrenha dos dogmas religiosos, René Descartes e outros pensadores do século XVII, cindiram a realidade em duas partes independentes: os cientistas tentariam explicar o mundo material, percebido pelos nossos cinco sentidos, através da física, deixando para a metafísica o mundo invisível, esfera de “propriedade” exclusiva das religiões. Graças a essa divisão, foi possível um avanço tecnológico fundamental para as mudanças que ocorreram e continuam ocorrendo na economia e na sociedade humana. Essa forma parcial de ver o mundo apenas pela perspectiva do “visível” começou a ser questionada por muitos cientistas a partir da segunda metade do século XIX. Surgem personagens como Alan Kardec, Rudolf Steiner, Sigmund Freud, Albert Einstein, só para citar alguns, que procuram ir além da perspectiva do “visível” e começam a explorar os campos da metafísica, antes reduto exclusivo das religiões. O interessante é que essa tentativa de complementar o conhecimento humano com o lado que pouco evoluíra além do que as religiões já haviam definido muitos séculos antes, trouxe adversários não só no campo religioso, mas principalmente no seio do próprio mundo científico. Sem perceber, a ciência tornara-se aquilo que tanto criticara nas religiões: um conjunto de dogmas e verdades que não podiam ser contestadas. Einstein teve sua teoria da relatividade contestada por um manifesto de cem cientistas alemães; Rudolf Steiner teve seus livros sobre a Antroposofia queimados durante a Segunda Grande Guerra por serem considerados uma “ciência oculta”, quando ele, na verdade, propunha uma “ciência do oculto”.

O que assustava, e ainda assusta, muitos dos cientistas tradicionais é que o método proposto para acessar esses conhecimentos mais sutis, não pode ser iniciado pela razão e lógica comuns, pois estas estão afeitas, até o momento, apenas ao que pode ser percebido pelos cinco sentidos mais comuns. O método para a pesquisa do “invisível” não pode ser o nosso olhar comum, mas um olhar translógico, intuitivo. Embora esse olhar estivesse também presente em todas as descobertas dos cientistas cartesianos, eles o negam por não poderem explicá-lo dentro do mundo que se propuseram a estudar.

Mas muitos pesquisadores resistiram à “Inquisição” da ciência cartesiana (que ainda não terminou) e escreveram suas teorias que precisam ser entendidas, não apenas pela nossa lógica racional comum, mas pelo bom senso e pelo que elas ressoam dentro de nós.

Esse outro mundo que complementa o lado material do conhecimento humano não é o mundo dos nossos sentidos tradicionais, mas sim o mundo do sentido da Vida. Essa esfera existencial, que nos toca a todos, e que vem se tornando um grande gargalo do conhecimento humano, pede licença para se manifestar e deixar que as próprias pessoas reflitam e façam suas escolhas.

Nas escolas, as crianças precisam expressar e desenvolver esse potencial de sentir o invisível para termos adultos completos nas próximas gerações. E é no brincar que elas revelam esse dom.

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