Nadar nas profundezas do mar, procurar por pequenas ostras na imensidão, colhê-las e retirar de dentro delas as pérolas que lá se escondem. Uma tarefa nada fácil nos dias atuais.

Num prazo de pouco mais de cem anos evoluímos mais do que em toda a história anterior da humanidade, com uma velocidade difícil de ser assimilada e jamais imaginada pela grande maioria das pessoas. As consequências, portanto, são imprevisíveis e tão intensas que, apenas se juntarmos milênios de sabedoria humana poderemos visualizar mais claramente os efeitos de tão avassalador “tsunami” de mudanças no comportamento individual e social das pessoas.

Não há mais tempo para reflexões. Não há mais tempo para o silêncio, exterior e interior. Não há mais tempo para a contemplação dos mistérios que nos cercam, para a beleza das outras criações da Natureza: a delicadeza das formas e cores das flores, a energia dos cristais, a doçura das frutas, o êxtase que um pôr de sol provoca, a necessidade de pertencermos à essa Natureza, de entrarmos no mar, de sentirmos o vento batendo no rosto, de andarmos na chuva, de olharmos as nuvens, de ficarmos perdidos num tempo e numa dimensão que não sabemos – nem queremos – explicar. Esses são momentos que nos revelam que a felicidade é possível, principalmente se compartilharmos e estendermos esses sentimentos para outras pessoas.

Atingir a maturidade emocional e espiritual não exige pré-requisitos de natureza intelectual, senão aqueles desenvolvidos pelo cidadão comum que, ávido de conhecimento e sabedoria, usa a ação como escola da vida. Também não está ligada a uma faixa etária específica, pois vemos, muitas vezes, jovens, e até crianças, com uma enorme competência emocional e espiritual. Como pediatra, vi muitas vezes crianças em fase adiantada e grave de suas doenças, consolando seus pais e visitantes no hospital. Elas não queriam que eles sofressem com a tristeza que a morte delas provocaria. Foram muitas cenas desse tipo, onde o adulto intelectualmente formado comportava-se como um recém-nascido no campo das emoções, e as crianças agiam como sábios amadurecidos emocional e espiritualmente pelo sofrimento e pela intuição. Como no mundo da criança tudo é possível, ela apresenta uma fé impoluta, sem as contradições que a razão pura trouxe à mente dos adultos. Queremos os resultados sem mesmo acreditar que eles serão possíveis.

Quem não encontrou em sua vida pessoas “sábias” pela competência em falar nos momentos certos, em silenciar quando a reflexão é necessária, em sempre sorrir e se mostrar, humildemente, a serviço das pessoas? Quantos jovens nas empresas, em momentos de frustração ou revolta, não procuram a senhora que serve o café ou o funcionário da manutenção, sempre atencioso, ou aquele colega que sabe ouvir? Essas pessoas são verdadeiras pérolas dentro das organizações.

Interessante que, quando vamos para lugares distantes dos grandes centros industriais, somos muitas vezes surpreendidos pela sabedoria do matuto, do caiçara, das pessoas comuns do campo que, alijadas dos benefícios que os grandes centros possuem no que se refere ao acesso à informação e ao conhecimento acadêmico, demonstram uma maturidade emocional e espiritual que temos dificuldade em compreender.

Não estamos aqui menosprezando as competências cognitivas e técnicas, mas se elas não forem acompanhadas da maturidade emocional e espiritual, não passam de joias perdidas no fundo do mar, pérolas dentro de ostras.

Nossas habilidades, capacidades, talentos, aptidões ou quaisquer outras formas que usarmos para definir nossos potenciais (nossas pérolas), eles só se transformarão em competências com a prática constante. Competência é ação e, como tal, precisa ser aperfeiçoada nos nossos atos do dia a dia. Para alguns desses talentos e capacidades teremos mais facilidade; para outros precisaremos de mais dedicação, tempo e disciplina, mas nosso potencial é ilimitado.

Deixe um comentário