Qual o papel das escolas de ensino fundamental na aprendizagem das questões filosóficas que povoam as mentes das crianças? Como abordar valores, princípios, sentido da Vida, respeito ao outro e mesmo a espiritualidade nas escolas?
Ken Wilber, filósofo americano contemporâneo, em seu livro Uma teoria de tudo reforça que vivemos numa época sem precedentes e que é preciso integrar todo o conhecimento, com o intuito de chegarmos à unidade na diversidade, compartilhando atributos comuns e respeitando nossas diferenças, criando um espaço legítimo para a arte, para a moral, para a ciência e para a religião.
E ele prossegue nesse tema em outro de seus livros – A união da alma e dos sentidos – e nos permite aprofundar nossa reflexão sobre a necessidade dessa reintegração da espiritualidade no cotidiano do conhecimento humano. Propõe a reconciliação da ciência com a religião, não como curiosidade acadêmica, mas como a união de duas enormes forças: verdade e significado. Refere-se às três esferas da moral como o Bem (ética), a Verdade e o Belo (estética). Em outras palavras, propõe a união da ética com a ciência e a arte.
Pensando nessa união da ética com a ciência e a arte, estariam os professores e professoras preparados para abordar a espiritualidade nas escolas?
Outra personalidade contemporânea que pode nos ajudar nessa busca do entendimento da complementaridade entre ciência e espiritualidade é um dos maiores líderes espirituais da atualidade: Sua Santidade, o Dalai Lama. Na sua obra O universo em um átomo, ele revela o que a sabedoria budista pode nos oferecer para reflexão sobre o tema ciência e espiritualidade:
“Além do mundo objetivo da matéria, que a ciência é mestre em explorar, existe o mundo subjetivo dos sentimentos, emoções, pensamentos e os valores e as aspirações espirituais baseados neles. Se tratarmos este reino como se não tivesse nenhum papel constitutivo na nossa interpretação da realidade, perderemos a riqueza da nossa própria existência e nossa interpretação não poderá ser abrangente. A realidade – que inclui nossa própria existência – é bem mais complexa que a permitida pelo materialismo científico objetivo” (DALAI LAMA).
No seu livro Teosofia: introdução ao conhecimento suprassensível do mundo e do destino humano, Rudolf Steiner, mais um dos pioneiros na tentativa de introduzir um plano mais sutil de conhecimento na realidade do ser humano, descreve a importância da autocompreensão para o ser humano. Ele buscou criar uma ciência que explicasse o mundo mais sutil e definie o homem como sendo composto por corpo, alma e espírito:
“Por meio de seu corpo o homem pode colocar-se momentaneamente em relação com as coisas; por meio de sua alma ele guarda em si as impressões que as coisas produzem nele; e por meio de seu espírito lhe é apresentado o que as coisas conservam em si. Só considerando o homem segundo essas três faces é que se pode ter a esperança de alcançar uma elucidação de sua natureza – pois essas três faces mostram-no relacionado de modo triplamente diverso com o resto do mundo” (STEINER).
Francis S. Collins, cientista contemporâneo de grande evidência, um dos nomes respeitados da atualidade no campo da genética humana, foi o diretor geral do Projeto Genoma e escreveu o livro A linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele existe. Ele conta que sua experiência ao mapear o genoma humano foi uma realização científica excepcionalmente bela e um momento de veneração. Collins questiona se existe a possibilidade de uma harmonia entre as visões de mundo científica e espiritual e no decorrer do livro ele responde que há sim essa possibilidade, pois, alega, a ciência não é a única forma de aprender, já que a visão de mundo espiritual fornece outra forma de encontrar a verdade.
E você: preparado para conversar com crianças e adolescentes sobre espiritualidade nas escolas? Ou devemos deixar de lado esse tema por estar no campo das religiões?
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