Imortalidade

Esconder a morte tem sido uma constante na sociedade atual. Além de confinar as pessoas na fase final de suas Vidas em enfermarias hospitalares, UTIs ou em asilos, uma parte da ciência prega a imortalidade como uma possibilidade real. Sem a morte, a Vida não tem riscos, o que acrescenta uma segurança e uma sensação de controle ilusórias, mas bem afinadas com a pregação da não-Vida. No entanto, ao aceitarmos tal visão sobre a morte, tiramos de nós mesmos o desafio de viver com qualidade e propósito. Assim, a imortalidade é uma busca desesperada por um mundo sem sentido.

Porque a morte não é o fim, mas parte integrante e essencial da Vida, dando a esta significado e o porquê de ser vivida com intensidade. Por causa da morte, deixar o tempo passar é perder Vida. Por isso, os zumbis modernos não são “mortos-vivos” e sim “não-vivos”, uma vez que não aceitam os pressupostos da Vida, inclusive este, de que a morte é parte integrante e indissociável dela. Para eles a morte é um acidente de percurso e pode ser evitada.

No entanto, quando o instinto de viver explode dentro deles, muitos buscam exatamente a morte como a forma definitiva de sentirem a Vida e outros a colocam em risco para terem o sabor transitório de experimentar a Vida pela iminente possibilidade da morte.

Por esse motivo a pena de morte não atemoriza os zumbis modernos. Como não-vivos, a pena de morte pode ser uma solução extrema para se sentirem, finalmente, vivos. Ao contrário, a melhor forma para recuperarmos zumbis é trazê-los de volta â Vida.

Para algumas pessoas, os esportes radicais também têm a função de proporcionar uma experiência de Vida (a necessidade da adrenalina). No entanto, nessas atividades o risco é escolhido e os equipamentos de segurança “previnem riscos”, dando a sensação de controle e segurança. O interessante é que é justamente a expectativa do risco que faz as pessoas gostarem dessas modalidades. É o risco de algo falhar e a morte sobrevir. Mas na Vida não escolhemos riscos e nem podemos usar equipamentos de segurança para imprevistos. Quem vive a Vida jamais a coloca desnecessariamente em perigo, pois os riscos já são inerentes ao viver.

Trazer a morte de volta às nossas Vidas é conversar sobre ela no cotidiano e enfrentar as possíveis angústias que ela produz. As crianças precisam entender desde cedo essa unidade Vida-Morte para não pensarem que existe um mundo de segurança e controle nesta dimensão que habitamos.

Quanto estamos preparados como ensinantes a dialogar sobre esse tema? Como as escolas são fundamentais para a formação, ou não, dos zumbis modernos?

 

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