No livro “Medo Líquido”, do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, o papel do medo no cotidiano das pessoas é brilhantemente analisado. O autor mostra os vários tipos de medos que assolam a sociedade atual, contrariando o que se imaginava no passado: chegarmos ao século XXI num mundo livre dos temores. Os jovens da atualidade têm dificuldade em lidar com seus medos porque foram educados para não os ter. Pesquisa feita por Jean Twenge, professora de psicologia da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos com 0nze milhões de jovens que usam smartphones americanos revelou que, embora superconectados, eles estão crescendo despreparados para a vida.
As novas gerações foram convencidas que ter medo é uma “fraqueza” humana primitiva e inaceitável, principalmente no mundo organizacional. Interessante, por outro lado, que o medo sempre foi usado pelos tiranos como forma de controlar as pessoas, mantê-las inseguras e dominá-las sem resistências. O terrorismo que o diga.
Mas, um dos medos mais significante no mundo do “Sou visto, logo existo!” é a exclusão. Ser colocado fora de um grupo, de uma rede social ou de uma organização qualquer se transforma num medo insuportável, uma verdadeira fobia. Ser “deletado” – esse é o grande medo que faz com que as pessoas se submetam às vontades de elites política ou economicamente poderosas. Sabendo disso, essas elites mandam mensagens subliminares de ameaça de exclusão através de programas de TV, na Internet ou em ameaças explícitas no dia a dia.
Bauman aborda esse tema e trata especificamente dos programas de TV que têm como objetivo final o que chamamos aqui de “jogo do resta um”. Apenas um vence – supostamente o melhor – e todos os outros são excluídos lentamente e de forma sofrida, algo que assusta a plateia que se identifica com os “perdedores” já que em muitas de nossas experiências na vida já sentimos a frustração de não ter o melhor. A insegurança e a vulnerabilidade aparecem escancaradas como parte da Vida e muitas pessoas correm apavoradas, uma vez que a sua programação educacional exige segurança e controle racional total sobre suas emoções.
Claro que o leitor já identificou que Bauman está falando dos famosos realities shows, sejam eles tipo Big Brother, Master Chef ou programas de calouros em busca de serem celebridades. Assim, a escolha se reduz a celebridade ou vítima. Como apenas um vence, todos os demais serão excluídos e terão de se contentar com o lugar de vítima.
Nas organizações empresariais a dinâmica se repete, causando sempre a infelicidade da grande maioria, pois alguns chegarão a gerentes, poucos serão diretores e apenas um ocupará o posto de Presidente ou, com um nome mais chique, CEO. Mas, a possibilidade de chegar é uma esperança incentivada e o medo da exclusão permanece como uma contínua angustia. Assim se instala o burnout, um distúrbio psíquico de caráter depressivo definido por Herbert J. Freudenberger como a doença do esgotamento profissional.
Será que não fazemos o mesmo nas escolas com as crianças, implantando o medo do resta-um?
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