Nosso aprendizadoOnde ocorre o nosso aprendizado?

Na segunda metade do século XX a grande evolução da educação e o desenvolvimento de novos modelos pedagógicos ocorreram principalmente no mundo organizacional e nele estão encastelados. Isso jfoi constatado por alguns pensadores no início da década de 1990. Nas considerações finais do livro Organizações e tecnologias para o terceiro milênio, Pierre Weil (1995) pressagiava o papel das empresas na educação fazendo a seguinte pergunta: “Serão as empresas novas universidades e catedrais para o terceiro milênio?”. Alegava que as organizações teriam um papel fundamental na aprendizagem continuada das pessoas, não só no que tange ao aspecto profissional, mas, principalmente, aos aspectos relacionais, emocionais e existenciais.

Por outro lado, Ivan Illich, no seu livro Sociedade sem Escolas (1985), fazia provocações intrigantes à educação moderna, colocando que a escola atual faz o aluno confundir ensino com aprendizagem, obtenção de notas com educação, diploma com competência e fluência no falar com capacidade de dizer algo novo.

O famoso educador francês Edgar Morin (2003) também questiona os atuais padrões educacionais, inclusive na formação dos educadores, em seu livro Educar na era planetária. Defende a ideia de que a missão da educação hoje é possibilitar a emergência de uma sociedade planetária composta por cidadãos conscientes e protagonistas na construção dessa nova sociedade humana. Ele traça algumas competências técnicas, relacionais, emocionais e espirituais para o exercício da tarefa de educar. Mas, com tantas exigências, será que há espaço para a formação de educadores? Para ele, a tarefa de educar, governar e psicanalizar, pode ser aplicada também ao cuidar da saúde das pessoas de uma forma mais ampla possível. Assim, como acontece nosso aprendizado?

Noutra vertente, a professora Vanessa Sievers de Almeida (2011), já na introdução de seu livro Educação em Hannah Arendt, coloca uma pergunta desafiadora: “Ainda é possível educar?”. Ela responde citando a própria filósofa Hanna Arendt que propõe que, se não temos mais um mundo que ofereça como antes uma certa estabilidade, temos sim a capacidade de agir e, portanto, o potencial de construir um espaço de convivência entre nós para desenvolvermos nossas experiências coletivas humanas, as relações entre as pessoas e atribuir um sentido a tudo isso, ou seja, “a possibilidade de construirmos e cuidarmos de um mundo comum no qual podemos ser livres”.

Reconhecendo a interdependência de todas as competências, de que elas se formam na ação e o seu necessário equilíbrio, devemos corajosamente definir modelos pedagógicos que atendam essas exigências. Esses modelos existem, mas sua utilização passa por reflexões que ainda estamos tentando desenvolver, para um novo olhar sobre a educação e o papel essencial de todos aqueles que, de uma forma ou de outra, participam da formação de um cidadão adulto “competente” para viver sua vida com a qualidade que ela deve ser vivida.

Quando perguntamos sobre nosso aprendizado, estamos falando do papel formador da família, das escolas em todos os níveis, das organizações públicas e privadas, onde as pessoas desenvolvem e aplicam suas competências, das igrejas, independentemente do credo professado e dos partidos políticos. Todas essas instituições precisam entender a importância da maturidade intelectual, relacional, emocional e espiritual para que as pessoas possam viver uma vida equilibrada, recheada de momentos felizes.

 

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