As inúmeras manifestações de violência a que assistimos e estamos sujeitos todos os dias tornaram-se um dos principais problemas de saúde pública no Brasil. Índices de criminalidade compatíveis com situações de guerra, agressões contra as mulheres, homofobia, intolerância racial e política, violência nos estádios de futebol, agressões a professores nas escolas, estupros dentro das famílias e outras tantas barbáries cometidas pelo ser humano contra outro ser humano com as mais variadas justificativas.
O que pode explicar, ao menos em parte, tamanho desrespeito ao outro e, pior ainda, tamanho desprezo pela vida humana? Falta de empatia? Descontrole emocional? Exclusão econômica e social? Impunidade? Injustiças? Perda de valores? Tudo isso e mais um pouco?
Não podemos pensar que estamos diante de um problema simples e que surgiu de uma hora para outra. A violência tem raízes profundas na psiquê humana e vem sendo uma resposta cada vez mais constante e descontrolada às ameaças e aos medos, reais ou ilusórios, que recheiam as mentes das pessoas.
Educação para a paz, para a solução negociada de conflitos, para uma visão de mundo menos egocêntrica, restabelecimento de valores individuais e coletivos e, principalmente, uma educação emocional talvez sejam ações urgentes para interrompermos a formação de gerações cada vez mais violentas.
As escolas precisam rever seus modelos pedagógicos com urgência, em nome da saúde pública, e introduzir essas práticas educacionais em seus currículos regulares. Muitos países já fazem isso e estão começando a colher frutos desse investimento numa nova educação. Podemos começar por uma educação emocional das crianças, preparando-as para enfrentar as vicissitudes da vida sem que suas reações emocionais desemboquem em violência.
Um exemplo a ser seguido nessa área é o GROP (Grupo de Pesquisa Orientación Psicopedagógica) do Departamento de Métodos de Investigação e Diagnóstico em Educação (MIDE), da Universidade de Barcelona, fundado em 1997 para investigar aconselhamento no ensino geral e emocional, em particular. O grupo, fundado pelo Professor Rafael Bisquerra, é formado por professores de jardim de infância, primário, secundário, universitário, e formação de adultos na empresa. A abordagem geral da linha de trabalho focada em educação emocional pode ser resumida da seguinte forma:
- Desenvolver um marco teórico, em constante revisão, para a educação emocional.
2. Identificar as competências emocionais básicas para a vida na sociedade atual.
3. Programar a aquisição de competências emocionais ao longo do currículo.
4. Formar o professorado em educação emocional, para permitir o desenho, aplicação e avaliação de programas contextualizados em centros educacionais.
5. Criar materiais curriculares para apoiar a prática da educação emocional pelos professores.
6. Criar instrumentos de avaliação e diagnóstico para a educação emocional.
7. Projetar, implementar e avaliar programas de educação emocionais para o ciclo da vida.
8. Definir as estratégias mais adequadas para a implementação de programas de educação emocional em vários níveis de ensino e contextos de intervenção (educação formal e não formal, ambientes comunitários, organizações). Estas estratégias devem ser ao nível da escola, mas também relacionadas à administração pública e à sociedade.
9. Promover a cristalização da mudança, de modo a assegurar a continuidade do programa e sua possível institucionalização (inclusão no Plano Pedagógico Curricular).
10. Incentivar a otimização permanente dos programas através de comunidades de aprendizagem.
Podemos pensar em iniciar um trabalho similar nas nossas escolas, aproveitando parte do material disponibilizado por outros grupos de pesquisa nessa área.
Veja um pequeno vídeo do Prof. Rafael Bisquerra.
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