Líderes querem retribuir ao mundo tudo que receberam da Vida; tiranos querem do mundo mais e mais pois não são gratos a tudo que já receberam.
Há uma deficiência de verdadeiros líderes no mundo atual. Líderes voltados para a realidade da Vida são raros, pois, nas últimas décadas, eles foram adestrados a proporcionar a não-Vida para aqueles que deveriam liderar. Por isso , os zumbis são os tiranos modernos. O marketing político assim os concebe e reproduz, com compromissos falsos de um mundo ideal de estabilidade, controle e segurança, impossível de ser atingido por negar a complexidade da Vida.
Na história da Humanidade vimos muitas vezes o uso do poder por alguns desses tiranos (chamados às vezes de “realizadores”), fazendo com que pessoas com alta capacidade de conectar (“conectores”) criassem as “laçadas” da viabilização da realidade. Os Faraós ordenavam aos arquitetos a construção de jazigos monumentais para abrigarem seus corpos após a morte. Esses arquitetos, por sua vez, após desenharem a ideia (correlação de dimensão imaginária) contratavam “feitores” (atenção e esta palavra) que obrigavam escravos (“executores”) a realizarem as tarefas de materialização da obra (dimensão da concretização na terceira dimensão). Para materializar as ideias dos arquitetos, esses “relacionadores/executores” produziam, à custa de muito sofrimento, as conexões necessárias com as demais dimensões para viabilizar a obra. Era como forçar a criação das “laçadas” do tecido rendado do real usando da força e despendendo uma enorme energia humana, desproporcional à real necessidade.
Num texto muito inspirador chamado “Laços ou Nós Afetivos?”, a psicóloga Flávia Machado descreve que toda relação é dinâmica e que “relação é a capacidade de estar sempre dando novos laços (re-lação). Muitas vezes, quando estamos nos relacionando afetivamente, parece que estes laços se tornam nós difíceis de desatar”. Flávia explica que o nó não se desfaz tão facilmente quanto o laço e, no caso da afeição, é importante considerarmos a relação como laço, e não como um nó, pois assim tornaremos os relacionamentos entre as pessoas como algo autêntico e livre. Como o laço pode se soltar, ele não constitui uma ameaça, uma prisão, mas um compromisso consciente, verdadeiro, assumido pelos agentes da relação. Nesse relacionamento livre onde impera o afeto, o outro faz as coisas do jeito dele, que não é igual ao meu jeito. E isso passa a ser algo natural e respeitado. No entanto, é comum um tentar encaixar o outro no seu modo de fazer acontecer e, se a pessoa se deixa encaixar no jeito do outro, “então o laço vira nó, enrijece, perde a ‘folga’ que deve existir na relação”.
Vemos, então, que uma importante característica do laço é a possibilidade constante de se desfazer e participar de novos processos de construção da realidade. É no fato de abrir mão da segurança que estabelecemos maior liberdade entre as partes.
Inspirados pela Vida dos raros gênios do fazer acontecer que surgiram em milênios, nossos líderes atuais buscam desenvolver as suas competências de acessar a maior parte das dimensões e conectá-las de forma eficaz. Um zumbi jamais será um verdadeiro líder, pois é incapaz de aglutinar pessoas e viver relações. Um líder é um “relacionador” e inicialmente procura, para formar suas equipes, pessoas com imensa habilidade em navegar por um grande número de dimensões e com grande capacidade de gerar conexões não apenas no plano horizontal da terceira dimensão, mas principalmente entre dimensões e, depois, correlacionar tudo isso com maestria. Isto nem sempre é fácil, pelas características específicas e diferentes das pessoas que precisarão conviver com harmonia na diversidade desses grupos.
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