zumbisMuitas vezes, pelas limitações de nosso conhecimento, temos dificuldade em enxergar o que está nas entrelinhas da argumentação de pensadores atuais e do passado que, pela genialidade e forma diferente de ver a realidade em seu tempo, deixam legados que ainda estão por ser descobertos no esforço de compreender os problemas de nosso tempo. Os zumbis modernos não são “mortos-vivos”, pessoas ressuscitadas pela magia negra, mas seres que transitam num universo mental paralelo. Eles são seres “subviventes” numa era em que nos tornamos escravos de uma racionalidade contaminada pela ilusão do não morrer, da vida eterna e do nunca envelhecer.

Embora o fenômeno de zumbificação tenha adquirido maior relevância na segunda metade do século XX, ele pode ser identificado em toda história da humanidade, quando o poder era mantido através da força e de uma dificuldade de acesso das pessoas ao conhecimento. Essa impossibilidade de conhecer como a Vida acontece e o que se passava no restante do mundo, tornava populações inteiras suscetíveis a uma situação de “subvivência”, o que explica em parte o grande período de escravidão no qual se baseou boa parte da história socioeconômica mundial. Eram zumbis por ignorância.

O mesmo se deu na subserviência de pessoas que integravam os exércitos, soldados que colocavam suas vidas a serviço de interesses de poderosos governantes, sendo que esses interesses nem sempre significavam algo bom para o todo da sociedade que governavam

As guerras mundiais produziram o início da busca por segurança, certezas, estabilidade, controle e exclusão do inimigo.

Duas guerras mundiais ocorreram no século XX, com comportamentos de crueldade inexplicáveis por parte de generais, cientistas, intelectuais, num momento da história da humanidade em que crescia como nunca o conhecimento e o acesso a ele. Parece ter havido uma “lavagem cerebral” realizada talvez pela educação nas escolas modernas e na evolução e disseminação do conhecimento pelos meios de comunicação, controlados, em sua maioria, por elites dominantes.

A primeira guerra mundial criou o caldo de cultura para a segunda que, por sua vez, levou à guerra fria que estabeleceu a cultura do medo e da insegurança em relação ao outro diferente de mim, sempre um possível inimigo que quer me exterminar. Eu versus qualquer outro.

Governantes que, se de um lado insuflaram essa cultura de exclusão do outro, prometiam um mundo de segurança, ausência de riscos, de sofrimentos, de controle e fartura material. E para isso usaram o desenvolvimento da ciência como uma arma para atingir esses objetivos através de tecnologias bélicas e de possibilidades ilimitadas na área da saúde, insinuando a possibilidade de uma “perfeição estética” e da imortalidade. Congele seu corpo após a morte para que ele retorne quando houver a vida eterna.

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