Álcool na adolescência: como lidar com isso?

A bebida alcoólica representa um risco enorme para a nossa sociedade. É responsável, direta e indiretamente, pela maior parte das mortes entre adolescentes e causa de parcela expressiva dos problemas sociais. O momento da iniciação na bebida alcoólica é um dos pontos mais preocupantes. E a falta de conscientização a respeito — por parte dos pais e mesmo de alguns pediatras — tem chamado a atenção da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Em estudo piloto realizado no Ambulatório de Pediatria do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, mostrou-se que o consumo de álcool no ambiente familiar é bastante elevado (43,5%). A bebida alcoólica é seguida, nesse sentido, pelo cigarro (34,5%), pela maconha (27,5%) e pelo crack (11,5%). Os números obtidos em nossa pesquisa preocupam ainda mais porque indicam que o início no uso de álcool e outras drogas começa dentro de casa.

A popularidade da bebida alcoólica se amplifica quando levamos em conta que muita gente não associa a cerveja ao álcool. A cerveja está fora, inclusive, da lei de propaganda que regula as bebidas alcoólicas — isso porque tem menos de 13 graus de teor alcoólico, limite a partir do qual se proíbe a veiculação de anúncios de bebida alcoólica na mídia. Sabemos que a propaganda nos horários em que as crianças assistem TV é fator de iniciação no uso precoce do álcool.

Diante disso, quando me peguntam a partir de que idade devemos conversar com a família a respeito de álcool e drogas, respondo que isso deve começar desde a fase em que o bebê está no útero. Sim, se existem pessoas que têm problema com álcool no ambiente familiar, o médico precisa discutir isso com os pais. E estes com os filhos.

Se a mãe for alcoolista, precisamos alertar e intervir porque o risco de síndrome alcoólica fetal é sério e irreversível. O álcool é um perigo na gestação. Hoje temos visto adolescentes grávidas só diagnosticadas como tal no terceiro ou no quarto mês de gestação. Muitas estão ingerindo álcool sem saber de sua condição, expondo bebê e elas próprias a danos.

Quando pegamos a faixa etária de 17 anos, já temos 60% de experimentação de álcool nos jovens pesquisados em dez escolas do entorno da USP. O uso começa por volta dos 10 anos e em 20% dos casos já temos usuários de mais de uma dose diária. Isto é, já são dependentes. Se há consumo abusivo de álcool ou outras drogas na família, mais precoce tende a ser a iniciação da criança. E, para qualquer droga utilizada antes da maturação do cérebro (ao redor dos 21 anos), eleva-se o risco de dependência e problemas ligados a ela.

Estar ciente disso e detectar as possíveis drogas lícitas ou ilícitas que entram em casa é fundamental para prevenir e saber como lidar com o uso do álcool na adolescência. Geralmente os pais só ficam sabendo que os filhos bebem quando estes chegam alcoolizados em casa.

Não é possível que tenhamos casos de coma alcoólico aos 14 ou 15 anos nos consultórios pediátricos, consequência de jovens se embriagando em festas de 15 anos com bebidas oferecidas pelos próprios pais do aniversariante! Colocar em pauta essa discussão e incentivar a troca de ideias com a família foi o único fator positivo para reduzir a experimentação de álcool e drogas pelos jovens, segundo nossa pesquisa conduzida em escolas do Butantã, na capital paulista — esse fator superou a presença de espiritualidade, prática de esportes e participação em atividades culturais.

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